segunda-feira, junho 12, 2006

Flipper - Generic Flipper (1982)




Em mais um hiato na série que celebra a devastação sônica japonesa, cá estou para homenagear uma de minhas bandas prediletas em todos os tempos: genial Flipper, através de seu avassalador álbum de estréia Generic Flipper (1982), onde o sludgecore noise rock dos caras encontra sua mais rigorosa e sólida manifestação

Esses norte-americanos da pá virasda decerto não foram a primeira banda a elevar a insuportabilidade latente desde os primórdios do rock’n’roll a seu state of the art; tampouco foram os que a tal mister imprimiram maior radicalismo. Podemos, todavia, afirmar que foram decerto os que lograram tal feito com menos recursos, bem como também desprovidos de qualquer pretensão ‘artística’(os avantêsmicos Electric Eeels, de Cleveland, poderiam ser citados como pioneiros, mas a meu ver seu protopunk ‘grandguignolesco’ envolvia, ainda que por vias transversas, uma certa dose de arrogância e pretensão). O facto é que entre 1979 e 1985 Bruce Lose (vocais, baixo), Will Shatter (baixo, vocais), Ted Falconi (guitarra elétrica) e Steve de Pace (bateria) subverteram completamente os postulados do punk hardcore norte-americano: num cenário onde a não raro improfícua busca pela maior velocidade era a grande meta, a banda deliberadamente desacelerou ao máximo sua música em compasso de mórbido pesadelo slowcore, soterrando-a sob toneladas de microfonia num charco de areia movediça formado por mastodônticos drones de baixo, assim forjando uma espécie de noise rock brutal, inclemente e hipnótico; para usar a irônica analogia de um crítico do NME, um “Black Sabbath para machos”, trocando afetação teatral por descargas concentradas de agressão serial. Não obstante, uma porção significativa de sua insuportabilidade advinha do caráter intratável de seus integrantes, que cultuavam um ethos existencial pejado de niilismo auto-destrutivo numa relação simbiótica com o fascínio / repulsa da audiência. Flipper sempre jogou com extremos, com o irresistível impulso de 'desarrumar o arrumado', 'deixar o vagão correr solto', sempre encontrando mórbido prazer em violar todos os parãmetros do 'bom senso' estético, alojando-se com misantrópica disposição numa dimensão paralela violenta e inóspita, esfera de extravagante alienação voluntária e desorientação militante, encarnando destarte a 'grande recusa', para lançar mão aqui de um termo de Marcuse.


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2 Comments:

Blogger Willie The Pimp said...

"Doce" barulho!

Álbum foda.

Destaque para a primeira e para a última música...

3:14 PM  
Blogger Alphonse van Worden said...

Valeu! :-)

2:56 AM  

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